quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Indefinição de sentimentos

Liev apertou os olhos. O sol estava mais forte do que nunca, e acordar com aquele brilho nos olhos doía. Apertou os olhos novamente, a cabeça doía. "Quem está batendo na porta essa hora?". Olhou rapidamente para o seu relógio de pulso, que marcava 11h37. "Tudo bem, tudo bem. Não é tão tarde assim".
Saiu correndo, descalço, apenas tinha a parte de baixo do moletom. Abriu a porta. Era Nina. O coração bateu mais forte, quando a viu, apertou-a com força. Nina estava viajando há um mês, havia ido para Rússia. "Não quero não. Sinceramente, não suporto a idéia de te perder. O que temos hoje é muito bom. Quem garante que daqui há um mês teremos o mesmo?". Foi o que Liev disse quando ela foi embora. Nina apenas ignorou. "Perder uma oportunidade de curso? Por um homem? Nunca".

Liev pegou a mala e a mochila de Nina. Pouca bagagem. Era uma das características que Liev admirava em Nina. Era prática, diferentemente das outras mulheres que precisavam de milhares de malas para viajar. Nina não tinha nada disso. Liev nunca precisou esperar horas enquanto Nina se arrumava. Se o encontro estava marcado para às 23h, 23h eles estavam saíndo para o local planejado.

Quando colocou as malas no chão, Liev beijou-a na boca com força. "Hum, frio. Talvez seja algo russo, vai saber". Quis conversar, mas Nina estava com uma cara um tanto quanto estranha. "Por quê não me avisou que iria chegar? Eu poderia ter te pego no aeroporto...não teria trabalho algum e...". "Não, não. Você sabe que não gosto de depender de ninguém, sou independente".
Liev pensou: "se trazia tanto mal humor por quê não foi para sua casa?" Aí Liev lembrou. Nina morava de aluguel e seu prazo venceu enquanto ela viajava. Havia convidado-a para ficar na sua casa. Nina aceitou, dizendo que era coisa de no máximo três dias, porque ela não gostava de depender dos outros e...

"Mas como foi lá na viagem, Nina? Sabe, senti bastante saudade. A gente se falou pouco e você também não fez questão de responder meus e-mails". Sendo fria como fosse, Liev abraçou-a novamente. Passou todo seu calor para ela. Ela era fria, arrogante, rude, chata, mas amava-a. O amor não tem dessas coisas. Certo? Nina não correspondeu ao abraço caloroso. Liev não se importou muito. O importante era que ela conseguisse receber o calor que ele tentava transmitir. "A viagem foi muito boa. O curso foi melhor do que eu pensava, sabia? A minha turma era maravilhosa. Pude melhorar bastante o russo, porque não sei...ainda acho que há algo errado na minha pronúncia. Mas, fiz ótimos amigos. É. Acho que posso dizer isso. Marcamos até o próximo encontro." Como assim? Nina havia feito amigos? E planeja um reecontro? Liev não acreditou no que ouviu, só pensou consigo mesmo "ela nem justificou o motivo de não responder os meus e-mails".

"Liev, você se importa? Estou cansada. Vou tomar um banho. E ah, posso deitar no sofá?". "Claro, mas não deite no sofá. Deite na minha cama. Como acordei agora, está um pouco bagunçada. Ainda estou com um pouco de sono também. Posso deitar com você?". "Não acho que seja uma boa idéia. Preciso realmente dormir. Quem sabe outra hora?".

Nina apenas deixou o cômodo e tomou seu banho. Se direcionou para o quarto. Nem um beijo, nem uma breve despedida, nem nada. Liev ignorou, ligou a televisão e deitou no sofá.
Liev não tinha dificuldade em dormir com a televisão ligada, estava acostumado. Mas, qualquer barulho diferente ao da tv fazia com que ele acordasse repentinamente. Ouviu um barulho que vinha da cozinha, parecia ser a cafeteira. Olhou o relógio de pulso, 16h54. Passou pelo banheiro e decidiu ignorar Nina também. Escovou os dentes, tomou um banho rápido e saiu. Direcionou-se para cozinha.

"Fazendo café?". "É. Dormi pouco. Achei que estava com bastante sono, mas me enganei". "Nina, você está bem? Você está estranha. Não que você não seja estranha, mas...". Liev tentou ser engraçado, mas Nina não deu nem um sorriso. "Sabe Liev, estou indo embora daqui a pouco. Acho que vou ficar num hotel mesmo, sabe?". "O que houve, Nina?". "Acabei encontrando um brasileiro no meu curso, ficamos muito amigos porque eramos os únicos brasileiros da sala. O nome dele é Valentim e...". Enquanto Rhaissa falava, Liev pensou "Vigoroso. Valentim significa vigoroso. Diferentemente do que sou". "...e sabe Liev? Eu acabei gostando dele. E tivemos um relacionamento por lá. Acho que o que temos, eu e você, nunca existiu né? Você sempre viveu colado em mim e nunca gostei disso...". Liev, em seus pensamentos:"Colado? Acertou em cheio Nina. Meu nome, Liev, significa colado".
"O fato é que, Liev, vamos ser sinceros? Eu só estava com você porque não achava nada melhor. E você também não sentia nada muito forte por mim, não é? Então acho que nenhum de nós pode sair machucado dessa história e...Liev, você está me ouvindo?". Liev estava perdido em seus pensamentos. "Liev!". "Oi Nina oi. Desculpa". "É Liev, estou falando, me escuta? Ou seja, não tinhamos nada forte, não é? O que você sente por mim?". "Amor Nina, puro amor". "Que bom Liev. Você não sairá machucado dessa história. O que sinto por Valentim é muito mais forte".

Nina pegou a xícara, as malas e fechou a porta.

Soundtrack: Dido - See You When You're 40.

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