terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Amar, verbo intransitivo

Sempre quis ler esse livro. Não me pergunte porque. Mas talvez porque achasse que fosse um livro romântico, que me deixasse com o coração batendo ou alguma coisa assim. Achei que seria o livro da minha vida. Mas, por enquanto, o livro da minha vida não tem nada de romântico e nada de maravilhoso, pelo contrário. Qualquer dia escrevo sobre ele.

O livro é escrito por Mário de Andrade e também está na lista de leituras obrigatórias. Estou lendo (ou seja, não terminei) por causa do vestibular da UESC. Esse eu não comprei em sebo porque minha conta bancária não permite e infelizmente, estou lendo por e-book. Não é nada que eu goste, sempre fico com sono, mas não tem jeito. Esse é o terceiro que tô lendo no computador e lá no fundo, sei que está longe de ser o último.

Mas, pelo menos para mim, o título trai o enredo do livro. Pelo menos eu, ao saber do título sem saber o enredo, imagino um livro de algum casal loucamente apaixonado e a relação do mesmo ao longo da história. Bem, podemos dizer que há algo disso, talvez.

O livro mostra basicamente a história de Elza Fräulein, alemã, que vira "governanta" da casa dos Souza Costa e cuida das crianças. O fato é que Elza não está lá para apenas ensinar piano ou alemão, ela é quem vai iniciar a vida sexual de Carlos, filho do casal dono da casa. Não porque eles se apaixonaram loucamente, mas sim porque Elza foi convidada e paga para tal. Souza Costa, estava com medo de que seu filho, ao perder a virgindade num prostíbulo, entrasse na vida de jogatina e drogas. Laura, mãe das crianças, não sabe que Elza foi contratada para tal e quando descobre, a demite.
Elza se sente ofendida e reclama. No final das contas, Souza Costa convence Laura e Elza é readmitida.

E eu parei basicamente nesta parte do livro. O fato é que, pelo menos eu, sinto uma que há uma relação muito mais do que sexual entre Carlos e Elza. Acho, sinceramente, que ela gosta do menino de 15 anos e acredita que ele pode ser seu marido num futuro próximo ou pelo menos ela deseja ter alguém como Carlos. O motivo? Não sei ao certo, porque veja bem, o garoto não tem nada de especial, é apenas um garoto como outro qualquer. Mas, não acho que ela está na casa realizando um serviço como realizou em outras casas. Creio que sua atração por Carlos é diferente, o serviço fica totalmente a parte e ela acaba se envolvendo com o garoto.

Irei confirmar tudo isso amanhã, né? Termino a leitura do livro e comento alguma coisa aqui. Talvez.

O fato é que o enredo do livro é muito bom e penso seriamente em comprá-lo. Mas, uma coisa que me irrita bastante, é que Mário de Andrade decidiu usar o coloquialismo. Fica muito difícil entender algumas partes do livro e você apenas desiste e passa a tentar entender o "grosso" da história. Também é irritante a citação a cada pelo menos 2 páginas de pianistas, escritores, filósofos alemães. E também os trechos em alemão que poderiam muito bem ser suprimidos, né? Creio que a maioria dos leitores não sabe alemão e eu não vejo sentido em colocar um trecho em alemão para colocar logo embaixo a tradução do que havia sido escrito.

Mas, o que mais me irrita é o rodopio. A reviravolta para dizer uma coisa extremamente simples. Aqui, deixo uma parte do que eu acredito ser uma masturbação de Carlos pensando em Elza e Mário de Andrade faz disso toda uma delonga:

"Porém o menino já esta longe e agora havemos de segui-lo até o fim, entrou no quarto. Mas se deixou cair, sem escolha, numa cadeira qualquer, a boca movendo numa expressão de angustia divina. Quereria sorrir... Quereria, quem sabe um pouco de pranto, o pranto abandonado faz vários anos, talvez agora lhe fizesse bem. Nada disso. O romancista é que esta complicando o estado de alma do rapaz. Carlos apenas assunta sem ver o quadrado vazio do céu. Uma final sublime, estranha sensação... Que avança, aumenta... Sorri bobo no ar. Pra não estar mais assim esfregando lentamente, fortemente, as palmas das mãos, uma na outra, aperta os braços entre as pernas encolhidas, musculosas. Não pode mais, faltou-lhe o ar. Todo o corpo se retesou numa explosão e pensou que morria. Pra se salvar murmura:
— Fräulein!

Baixam rápidos do Empíreo os anjos do Senhor, asas, muitas asas. Tatalam produzindo brisa fria que refrigera as carnes exasperadas do menino. As massagens das mãos angélicas pouco a pouco lhe relaxam os músculos espetados, Carlos se larga todo em beata prostração. Os anjos roçam pela epiderme dele esponjas celestiais. Essas esponjas apagam tudo, sensações estranhas, ardências e mesmo qualquer prova de delito. Na alma e no corpo. Ele não faz por mal! são coisas que acontecem. Porém, apesar de sozinho, Carlos encafifou. "

Soundtrack: Robbie Willliams - Feel.